Como o surf muda a vida das crianças e jovens do Morro do Turano
O esporte olímpico é um vetor de transformação na vida de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social
Por Sofia Santiago
No coração do Morro do Turano, na cidade do Rio de Janeiro, o Instituto Favela Radical está transformando vidas através de diversas atividades, mas o poder do surf é a força motriz desta OSC (Organização da Sociedade Civil). A organização, idealizada por Jeff Quirino, é mais do que apenas um projeto esportivo. É um movimento que busca oferecer oportunidades e esperança para as crianças e jovens de uma comunidade que, muitas vezes, enfrentam adversidades duras para tão pouca idade.
A inspiração por trás do Favela Radical vem da história do próprio Jeff Quirino, que viu sua própria realidade ser transformada pelo surf. Ele percebeu que esse esporte poderia ser a chave para uma vida melhor, não apenas para ele, mas para toda a sua comunidade. Com o desejo de que as crianças e adolescentes de Turano pudessem ter a mesma experiência transformadora, o instituo Favela Radical nasceu, para democratizar o acesso ao esporte e construir sonhos para esses jovens.
“O surfe sempre foi um esporte da burguesia, por todos os aspectos. Desde que começamos a disponibilizar aulas de surfe, quebramos todas as barreiras possíveis e cabíveis. Por mais que moramos no Rio de janeiro, a praia é distante de onde moramos. Temos relatos de crianças que nunca tinham ido à praia.” — Analice, coordenadora do polo esportivo cultural do FR.
O Morro do Turano, lar dos pequenos surfistas, está há 10 km do Arpoador, onde as aulas são realizadas todos os sábados, gratuitamente. O FR disponibiliza transporte para que todas tenham como se locomover até a praia e não tenham que desistir por conta da distância. Para essas crianças, o surf não é apenas um esporte, é uma janela para um mundo de possibilidades e um oceano de sonhos.
A modalidade oferece muito mais do que apenas diversão na água. É uma ferramenta poderosa para a inclusão social e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. As aulas não apenas aprimoram as habilidades físicas, mas também fortalecem a autoconfiança, moldam o caráter e constroem a personalidade. O surfe é um estilo de vida, uma filosofia que ensina a importância do respeito pela natureza e pelo próximo, segundo o instrutor do projeto, Rodrigo Carvalho. O surfista precisa da natureza e, portanto, se torna um defensor apaixonado de sua proteção.
No mar, todos são iguais. Com a prancha, há contato não apenas com as ondas do mar, mas também com seus “oceanos internos”. Camila Damasio, aluna do projeto, compartilhou: “vi uma frase uma vez e nunca li tanta verdade ‘Não há nada que um dia de surfe não cure’. Não importa se você pegou 5 tubos ou uma marolinha, você sai do mar energizado e pronto para encarar qualquer coisa”.
No Favela Radical, a mensagem do surfe vai além da competição e da diversão. Eles enfatizam temas como sustentabilidade e igualdade, transmitindo valores importantes que vão muito além das ondas. Enquanto as pranchas são os veículos que os levam a um futuro cheio de possibilidades, o FR é a âncora que os mantém ancorados nesse caminho de esperança e transformação.